segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Felicidade, por Swami Dayananda Saraswati

Entenda o conceito yóguico ananda
Tradução: Humberto Meneghin

Ilustração: Gustavo Peres


Atman, o Ser, é definido como sat cit ananda. Na definição destas três palavras, sat é geralmente traduzida como existência, cit como consciência, ananda como bem-aventurança, felicidade. É óbvio que estas três palavras não são adjetivos de atman (alma, princípio auto-organizador do ser), pois atman é revelado pelo shastra destas três palavras. Se elas são adjetivas, há muitos atman-substantivos entre os quais um se destaca com os atributos especiais de sat cit ananda. Se nós dissermos: “Aqui está um lírio, grande, azul e perfumado”, todos os três adjetivos distinguem o lírio dos outros lírios sem esses atributos.
O que eu sou é automanifesto, mas essa existência é a que é limitada no tempo? Se for, atman, o eu, é como qualquer outro objeto. Tem de se tornar manifesto. Cada objeto torna-se ma­nifesto para o Ser. A existência do Ser é manifesta. Mas, para quem é que isso se torna manifesto? Tem de ser manifesto apenas para o Ser. Quando a existência do Ser é manifesto para o Ser, ele é entendido como automanifesto. Na verdade, o shastra apresenta atman como satyam, a existência do Ser e tudo o mais, incluindo o sujeito que conhece, como alguém cuja existência é traçada a partir da existência de atman. Este atman autoexistente tem de ser automanifesto. Caso contrário, não há nenhuma maneira de se reconhecer a existência do Ser. Portanto, esta natureza automanifesta é o que está indicado pela segunda palavra, consciência, cit. Em sendo todo o conhecimento manifesto, então há a presença da consciência.

O atman automanifesto está na forma de cons­ciência que se revela. A natureza de sat é a consciência e a natureza da consciência é sat. A terceira palavra, ananda, deve ter a mesma condição que sat e cit, uma vez que é uma palavra que revela a natureza (svarupa) de atman. Se sat não pode ser substituído por um pensamento, muito menos cit pode ser substituído; como ananda pode ser, alguma vez, substituído por uma condição da mente?

Se ananda é traduzido como ilimitado (ananta), não há possibilidade de ser substituído a qualquer momento. Se for bem-aventurança, tem o seu oposto, infelicidade, que a substitui. Então, esta palavra ananda realmente causou mui­ta confusão nas mentes dos buscadores, bem como nas dos professores (acaryas).

Sukha (felicidade) e duhkha (tristeza) são opostas. Quando uma é, a outra não é. Quando estou feliz, não estou triste e quando estou triste eu não estou feliz. Mas a verdade é que o Ser que é sat e cit sustenta todas as condições da mente (vrtti), como a água sustenta cada onda. Se a condição da mente é agradável ou desagradável, ela é sustentada não ape­nas por sat cit, mas também ananda, porque sat cit é ananda.

A razão pela qual há tanta insistência na experiência do Ser é que aquele Ser é tido como uma experiência especial de bem-aventurança. Mesmo se houver uma experiência es­pecial de felicidade, como é que alguém reconhece que é a felicidade do atman?

Na verdade, o shastra é muito claro, pois toda experiência de felicidade nada mais é do que uma condição da mente (an­tahkarana) que não se opõe ao ilimitado de atman. A experiên­cia comum desta felicidade revela que a situação sujeito-objeto não se opõe ao ilimitado, à totalidade do atman. O não reco­nhecimento deste fato compromete uma pessoa a buscar tal experiência (de felicidade), quantas vezes e pelo tempo que ele ou ela pode tê-lo, o que é a vida de samsara. O shastra cessa essa busca revelando que o atman que alguém está buscando é a pró­pria pessoa.

Ananda nunca é substituído por qualquer condição da mente, porque é a natureza (sva­rupa) do atman, como sat e cit. Uma condição infeliz da mente é sustentada pela consciência a qual é sat. Se isso for verdade, é ananda que sustenta a condição infeliz, bem como a con­dição feliz.

Swami Dayananda Saraswati é um mestre de Vedanta e estudioso do sânscrio na tradição de Shankara. Vem ensinando na Índia por mais de cinco décadas e mundo afora desde 1976. Seus conhecimentos profundos combinados com um entendimento claro sobre problemas contemporâneos fazem dele um dos raros professores que satisfazem alunos com gosto pelo tradicional ou pelo moderno.
Além de ensinar, Swami Dayananda também apoia causas humanitárias há 45 anos. Seu projeto, AIM for SEVA, criado em 2000 e já premiado pelas Nações Unidas, serve pessoas em áreas remotas da Índia, principalmente nos campos de educação e saúde.
Seus principais alunos no Brasil são a professora Gloria Arieira, que morou em seu ashram na Índia, convivendo com ele por anos, e o professor Pedro Kupfer, que estuda regularmente com Dayananda em Rishikesh.

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