Por Cecília Valentim
Canto e Cérebro
Em termos das funções cerebrais, diferentes áreas processam o som, modificando a amplitude das ondas elétricas do cérebro. De modo geral as funções musicais são complexas, múltiplas e de localizações assimétricas, envolvendo o hemisfério direito para altura, timbre e discriminação melódica e o esquerdo para ritmos. A música, mais que qualquer outra arte, tem uma representação neuropsicológica extensa. No Canto, isso se amplia, na medida em que atua, por meio da música, nas áreas límbicas, tendo acesso direto à afetividade e, ao mesmo tempo, nas áreas cerebrais responsáveis pela linguagem. Em nível da percepção global, deflagra áreas não só auditivas mas, gustatórias, olfatórias e visuais. Constituímos uma trilha sonora que acompanha as imagens da nossa existência. No cantar, A melodia, que é o que cantamos, é voltada para o contexto, é configurativa, relacionada às áreas posteriores do cérebro, que também são responsáveis pela mímica que acompanha nossas reações corporais ao som, registrando uma seqüência de eventos - uma gestalt – acompanhada por uma intencionalidade. Essa intencionalidade conecta áreas frontais do cérebro, acionando um “chip” que liga o contexto a todas as experiências e restabelece outras formas em paralelo, ou seja, conecta a experiências adormecidas, trazendo-as à consciência, abrindo a possibilidade para a elaboração e a reconfiguração da experiência.
Canto e Consciência
“Cada organismo possui seu próprio grau de vibração, e isso se aplica também a todo objeto inanimado, de um grão de areia a uma montanha, e mesmo a cada planeta e cada sol. Quando este grau de vibração é conhecido, torna-se possível visualizá-lo internamente e assim decompor ou tornar consciente o organismo ou a forma”.
W.Y. Evans-Wentz
“A música derrete o demorado das realidades”
Guimarães Rosa
Em seu livro O Universo Autoconsciente, Amit Goswami define a consciência como o fundamento do ser – original, auto-suficiente e constitutiva de todas as coisas - que se manifesta como o sujeito que escolhe, e experimenta o que escolhe, ao produzir o colapso auto-referencial da função de onda quântica em presença da percepção do cérebro-mente.
Cantar é escolha: quando cantamos somos os geradores da ação de cantar e ativamos nossos sentidos e nossa expressão; acionamos a trilha sonora que acompanha as imagens da nossa existência, registrada em um corpo emocionado que delimita o espaço-tempo ao instante em que ocorre a experiência, tornando-a única e pessoal. Abrimos as portas para outros níveis de percepção, onde sujeito e objeto se fundem e se tem a autoconsciência de ser o sujeito dessa experiência, observando a si mesmo como instrumento da própria ação.
O Poder Cantante é o som do verbo, informação que transgride a matéria e faz a mediação alquímica entre a vibração primordial e o Ser que se fez carne.
O Ser Cantante é o Ser Vibrante em origem e essência que manifesta, por meio da voz e da arte música, o canto da sua alma pela eternidade.
“Trabalhe com o som até ficar surpreso pelo fato de o estar produzindo e surpreso pelo fato de ser exatamente você o instrumento através do qual o divino flautista forma seus sons. Torne-se você mesmo uma vibração que transcende o espaço. Se o som gerado pelas cordas vocais para criar a rede vibratória do universo tem a faculdade da sintonização total é porque ele nos une a sinfonia cósmica. Cada criatura é a cristalização de uma parte dessa sinfonia de vibrações. Assim, assemelhamo-nos a um som que ganha a densidade da matéria, a fim de vibrar contínua e initerruptamente.”
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Sobre Cecília Valentim |
Cecília Valentim, CBT., é Cantante, psicoterapeuta e educadora vocal. Graduada em Música/Canto, foi aluna e assistente de H.J. Koellreutter por 12 anos. Especializou-se em Música Antiga na Inglaterra, com Emma Kirkby e Evelyn Tubb e na Espanha com Jordi Savall e Montserrat Figueiras. Formou-se em Healing Voice e Overtone Chanting na Inglaterra, com Jill Purce.
É formada em diferentes linhas da Psicoterapia Corporal, Transpessoal e Energética como Análise Bioenergética, Biossíntese, Biopsicologia e Terapia Iniciática.Estudiosa dos rumos da Nova Física, da Neurociência e Espiritualidade, Cecília é pioneira no Brasil e inovadora na integração entre as Artes do Canto e da cura como caminho de transformação pessoal e expressão. Criou a abordagem A Arte do Ser Cantante. Há mais de 20 anos vem aprimorando e levando seu trabalho como artista e curadora a diferentes lugares do Brasil e exterior.
O presente artigo é parte de pesquisas, práticas e reflexões realizadas por Cecília Valentim e faz parte dos fundamentos teóricos da Abordagem da Arte do Ser Cantante.
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